Breve
histórico dos antecedentes da música no Brasil
As atividades artística musical brasileiras durante a passagem para o século XX significavam simples transplantações de modelos europeus na medida em que o som foi sempre considerado elemento de edificação religiosa e, também, aqui, nasceu misturado com a religião.
Saindo da fase da música sacra, o segundo momento
liga-se à consolidação dos poemas sinfônicos, óperas, modinha. Os compositores
eram obrigados a importar e aceitar as concepções estéticas vigentes na
Alemanha, Itália e França, devido à inexistência de características definidoras
da raça brasileira.
Mas, com o passar do tempo e as transformações
ideológicas, surgiram as concepções nacionalistas incorporadas pelos
modernistas (Camargo Guarnieri, Villa
Lobos) durante a década de 40 que objetivava penetrar no inconsciente
coletivo- “povo brasileiro”- para criar e elaborar obras inter-relacionadas ao
caráter específico da “raça brasileira”, fundamentando-se em especial, na
pesquisa da folcmúsica.
Da mesma forma que Pedro Álvares Cabral não foi o
primeiro navegador a aportar nas costas brasileiras, outras bússolas musicais
sintonizaram com as inovações que seriam regulamentadas pela bossa nova antes
mesmo de se estabelecer o rótulo que mais tarde ganharia consumo internacional.
A
Radamés Gnatelli já se devia, desde 1939 a orquestração
modernista (com batida de tamborins incorporada aos metais sonantes da abertura
de Aquarela do Brasil, o mais planetário dos sambas já escrito por Ari Barroso.
Radamés Gnatelli um maestro e compositor erudito com
ativa militância nas hostes populistas da Rádio Nacional do Rio – vestiu de cordas o samba Copacabana,
da dupla João de Barro (o Braguinha) e Alberto Ribeiro, para a voz de Dick Farney.
Durante toda a década de 50, (a dos baby boomers) assim
chamada geração do pós guerra, a música brasileira gestava uma resposta à
maciça intromissão da música americana em nossa mídia na década anterior. A
bossa nova era uma fusão do samba com o jazz – o que lhe abria maior espaço
para improvisos instrumentais e desenvolvimento harmônico – e com a roupagem
erudita, o que lhe permitiria novos revestimentos melódicos.
As origens do movimento são tão permeáveis quanto
seus criadores. Não faltaram precursores, adeptos da harmonização alterada
dissonante que caracterizava a bossa, como os violonistas Garoto e Valsinho, o pianista Vadico,
o compositor Dorival Caymmi, o
pianista de sotaque caribenho João
Donato.
A bossa nasceu integracionista, em sincronicidade
com o cinema novo de Nelson Pereira dos Santos (Rio zona norte, Rio 40 graus),
Carlos Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Paulo Cesar Sarraceni e mais adiante,
Glauber Rocha. Este movimento cultural
de sinultaneidades ativadas operava dentro das propostas desenvolvimentistas do
governo de Juscelino Kubitschek (1955-60), breve hiato de plenitude democrática
espremido entre ditaduras, renúncias e golpes de estado.
Há quem aponte o berço da bossa fora do Brasil, nas
experiências de fusão do violonista Laurindo de Almeida com a sax Buddy Shank
no LP Brasiliance, de 1952. O baixista do grupo Harry Barbasin teria preferido
“combinar Jazz ao baião”, facilitado pela proximidade do compasso binário,
“usando um tambor de conga com escova”.
O período de incubação da bossa nova inclui,
finalmente, as reuniões intimistas nos apartamentos amigos da Zona Sul do Rio
de Janeiro- do pianista Bené Nunes ao da musa Nara Leão – onde estavam todos
buscando uma nova forma musical que ainda era cantada bem baixinho. O
apartamento dos pais de Nara na Avenida Atlântica transformou-se em sede dos
primeiros encontros da bossa.
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